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Herbicida 2,4-D pode comprometer polinização das oliveiras, alerta pesquisa

Atualizado: 23 de mar.


Estudo in vitro mostra que até quantidades ínfimas de 2,4-D e glifosato reduzem drasticamente a germinação do pólen de oliveira. A deriva desses herbicidas durante a floração representa um sério risco à produtividade dos olivais.


Uso de herbicidas e o perigo da deriva

Os herbicidas são ferramentas essenciais no manejo de plantas daninhas na agricultura moderna. Na olivicultura, assim como em outras culturas, o controle de mato e gramíneas evita a competição por água e nutrientes, contribuindo para a saúde e a produtividade das oliveiras. No entanto, quando utilizados de forma inadequada, esses produtos podem “sair do alvo” e atingir plantas vizinhas ou partes sensíveis da própria cultura – um fenômeno conhecido como deriva. A deriva pode ocorrer tanto por partículas de pulverização carregadas pelo vento quanto pela volatilização de produtos mais voláteis (caso de herbicidas hormonais como o 2,4-D). As consequências são frequentemente visíveis: folhas retorcidas, crescimento atrofiado e até mortes de ramos e flores em espécies sensíveis (). Árvores expostas repetidamente a deriva de herbicidas podem sofrer perda de vigor, menor brotação e danos permanentes no ciclo reprodutivo. Em outras palavras, pulverizar herbicidas nas condições erradas pode causar prejuízos não apenas às ervas daninhas, mas também às oliveiras que se deseja proteger.


Esse risco é especialmente crítico durante o período de floração das oliveiras, quando as estruturas reprodutivas (flores e pólens) estão expostas e vulneráveis. Uma contaminação, mesmo mínima, por herbicidas nessa fase pode interromper o processo de polinização e frutificação. Casos de deriva de 2,4-D e outros herbicidas já foram associados a abortamento de flores e queda na produção em culturas sensíveis. Em plantas perenes, como frutíferas e árvores, danos por deriva podem incluir desde queda prematura de folhas e flores até morte regressiva de ponteiros – problemas que muitas vezes passam despercebidos até a constatação de falhas na frutificação. No contexto dos olivais, em que a colheita depende diretamente de uma boa polinização das flores, os perigos da deriva de herbicidas não podem ser subestimados.


(Inflorescência de oliveira (Olea europaea) em plena floração. Nessa fase delicada, deriva de herbicidas como 2,4-D pode causar danos invisíveis ao pólen, comprometendo a frutificação.
(Inflorescência de oliveira (Olea europaea) em plena floração. Nessa fase delicada, deriva de herbicidas como 2,4-D pode causar danos invisíveis ao pólen, comprometendo a frutificação.

Pesquisa revela impacto no pólen de oliveira

Um estudo científico recente conduzido no Rio Grande do Sul (Brasil) investigou precisamente esse cenário preocupante: como pequenas contaminações por herbicidas afetam a viabilidade do pólen de oliveira. A pesquisa, publicada na revista Semina: Ciências Agrárias (mar./abr. 2025), avaliou em laboratório a germinação de grãos de pólen de duas cultivares de oliveira, ‘Arbequina’ e ‘Koroneiki’, quando expostos a resíduos de dois herbicidas muito usados na agricultura – o glifosato e o 2,4-D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético). As inflorescências das oliveiras foram coletadas em um pomar comercial em Pinheiro Machado (RS), no momento em que as flores estavam se abrindo, e os grãos de pólen foram retirados para os testes. Em placas de Petri, os pesquisadores prepararam um meio de cultura específico (à base de ágar, sacarose e ácido bórico) para germinação in vitro do pólen, simulando condições adequadas de umidade e nutrientes.


Nesse meio nutritivo foram adicionadas subdoses dos herbicidas – isto é, doses muito inferiores às recomendadas em campo. Foram testados dois níveis de concentração para cada produto: glifosato a 0,19 e 1,92 g/L, e 2,4-D a 0,16 e 1,61 g/L. Para se ter ideia, essas doses representam aproximadamente 1/1000 (0,1%) e 1/10000 (0,01%) da dose comercial normalmente utilizada na lavoura. Em outras palavras, eram quantidades bem pequenas, equivalentes ao que poderia chegar por engano via deriva ou contaminação indireta. Além dos tratamentos com herbicida, houve uma parcela controle (sem nenhum herbicida) para comparar a germinação natural do pólen. As placas foram incubadas por 24 horas a 26 °C, e então os pesquisadores observaram quantos grãos de pólen haviam germinado – definindo germinação como a emissão de um tubo polínico com pelo menos o dobro do diâmetro do grão. Cada tratamento foi repetido em triplicata, contabilizando-se cerca de 100 grãos por placa para obter resultados confiáveis.


Os resultados foram alarmantes. No meio sem herbicidas, a germinação do pólen ocorreu em cerca de 25% dos grãos na cultivar Arbequina e 35,6% na Koroneiki – porcentagens típicas para germinação in vitro, indicando que as amostras de pólen eram viáveis. Entretanto, na presença de herbicidas mesmo em doses mínimas, houve queda acentuada ou até ausência total de germinação. Com glifosato a 0,19 g/L, por exemplo, a taxa de germinação caiu para apenas 14% em Arbequina e 22% em Koroneiki, representando uma redução relativa de 44% e 38,2%, respectivamente, em comparação ao controle. Esse já seria um efeito significativo com uma quantidade tão pequena de produto. Porém, o dado mais crítico veio dos outros tratamentos: quando aplicado glifosato a 1,92 g/L, ou 2,4-D em qualquer das subdoses testadas (0,16 ou 1,61 g/L), a germinação foi simplesmente zerada – 0% dos pólens germinaram. Em termos práticos, esses grãos de pólen tornaram-se totalmente inviáveis, incapazes de produzir o tubo polínico necessário para fecundar o ovário da flor.

Destaque: Tanto a dose de 1,61 g/L quanto a de 0,16 g/L de 2,4-D inibiram completamente a germinação dos pólens de oliveira nas cultivares testadas. Ou seja, até mesmo cerca de 0,01% da dose agrícola usual de 2,4-D foi suficiente para “esterilizar” o pólen em laboratório.

É importante notar que esses efeitos foram observados in vitro, em condições controladas de laboratório. No campo, diversos fatores adicionais podem influenciar a deriva e a exposição efetiva do pólen (como chuva, vento, arquitetura da copa, etc.). Ainda assim, os resultados fornecem uma indicação clara de que o pólen da oliveira é extremamente sensível a esses compostos químicos. A ocorrência de deriva de herbicidas durante a época de floração das oliveiras pode, potencialmente, comprometer severamente a frutificação, caso efeitos semelhantes ocorram nas flores em campo aberto. Os autores do estudo ressaltam a necessidade de pesquisas complementares in vivo (no ambiente do pomar) para confirmar e quantificar esses impactos sob condições reais, mas o alerta já está dado.


Por que 2,4-D e glifosato afetam o pólen?

Do ponto de vista científico, o que leva esses herbicidas a prejudicarem a viabilidade do pólen? Conhecer seus modos de ação ajuda a entender. O glifosato é o herbicida mais utilizado no mundo e atua inibindo uma enzima chave das plantas, a 5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS). Essa enzima participa da via do ácido chiquímico, responsável por produzir aminoácidos aromáticos essenciais (como triptofano, fenilalanina e tirosina). Ao bloquear a EPSPS, o glifosato impede a planta de sintetizar esses aminoácidos, o que afeta a produção de proteínas e metabólitos necessários para o crescimento celular. Nas plantas inteiras, isso resulta em paralisação do crescimento e morte (especialmente em plantas daninhas susceptíveis). Nos grãos de pólen, que são células reprodutivas isoladas com recursos limitados, a falta de aminoácidos e proteínas pode ser devastadora para o processo de germinação do tubo polínico. Basicamente, o glifosato “estrangula” rotas metabólicas fundamentais do pólen, inviabilizando seu desenvolvimento normal. Vale citar que reduções na viabilidade do pólen por glifosato já foram observadas em outras espécies vegetais, inclusive em culturas tolerantes ao glifosato (como híbridos de milho RR) – indicando que mesmo plantas resistentes podem ter sua reprodução afetada pelo herbicida em certas condições. No caso da oliveira, não havia registros anteriores de estudos sobre pólen, mas sabe-se que o glifosato é amplamente empregado nos olivais para manejo de mato.


O estudo discutido aqui mostra que, apesar de a oliveira adulta ser uma árvore lenhosa perene, seu pólen é suscetível ao glifosato em concentrações muito baixas – por vezes até mais suscetível que o pólen de outras plantas. Uma comparação ilustrativa: na espécie daninha Solidago canadensis, constatou-se que eram necessárias concentrações na faixa de 10 g/L de glifosato para inibir a germinação do pólen; já na oliveira, concentrações de apenas 1,92 g/L já impediram totalmente a germinação. Isso demonstra uma sensibilidade marcante do pólen de oliveira ao glifosato, reforçando a preocupação com qualquer exposição mínima durante a floração.


Já o 2,4-D, por sua vez, pertence a uma classe de herbicidas conhecida como hormonais ou auxínicos. Esses compostos imitaram a ação da auxina (ácido indolacético, AIA), que é um hormônio vegetal natural responsável por regular o crescimento e diversas funções nas plantas. Em determinadas doses e contextos, o 2,4-D pode até funcionar como um regulador de crescimento – por exemplo, em doses muito baixas ele pode induzir respostas de alongamento celular semelhantes às auxinas naturais. Contudo, o 2,4-D possui duas características que o tornam problemático: ele é muito mais estável que a auxina natural (não é degradado facilmente pelas plantas) e, portanto, se acumula; e mesmo em quantidades pequenas pode gerar concentrações “exageradas” aos olhos da planta, desencadeando efeitos desordenados. Em vez de crescimento controlado, o que se observa é um desbalanço hormonal que leva a deformações, crescimento excessivo de tecidos em alguns pontos, inibição em outros e, finalmente, colapso fisiológico. Pesquisas apontam que herbicidas auxínicos podem causar danos à integridade das membranas celulares e ativar reações descontroladas que levam à morte celular. No contexto do pólen de oliveira, a exposição mesmo a subdoses de 2,4-D parece ter sido suficiente para disparar esses efeitos tóxicos. Os grãos de pólen simplesmente não conseguiram desenvolver o tubo polínico – como confirma a imagem comparativa do estudo, em que pólens cultivados sem herbicida apresentavam tubos longos e normais, enquanto pólens expostos ao 2,4-D não mostraram qualquer emissão tubular, ou seja, o 2,4-D “engana” o pólen fazendo-o achar que recebeu um sinal hormonal enorme para crescer, mas esse crescimento se torna inviável e aborta imediatamente. Essa alta fitotoxicidade do 2,4-D ao pólen, mesmo em dose minúscula, surpreendeu os pesquisadores e destaca por que ele apresentou efeito ainda mais drástico que o glifosato nos testes.


Comparativo: 2,4-D é mais tóxico ao pólen que o glifosato

Embora tanto o glifosato quanto o 2,4-D tenham afetado negativamente o pólen de oliveira, o estudo evidencia uma diferença importante de grau: o 2,4-D mostrou-se capaz de eliminar completamente a germinação em doses bem menores que o glifosato. Enquanto uma pequena porção de pólen ainda conseguiu germinar na presença de 0,19 g/L de glifosato, qualquer traço de 2,4-D no meio (mesmo apenas 0,16 g/L) já bastou para impedir 100% da germinação. Somente na dose mais alta de glifosato testada (1,92 g/L, ainda assim equivalente a 0,01% da dose de campo) é que se observou também inibição total – o que reforça que ambos os herbicidas são problemáticos, mas o limiar de dano do 2,4-D é muito mais baixo. Nas palavras dos autores, “a inibição completa da germinação pelo 2,4-D em subdoses baixíssimas destaca sua elevada toxicidade para o pólen de ‘Arbequina’ e ‘Koroneiki’, ao passo que o glifosato só mostrou efeito inibitório total em subdoses maiores, sugerindo um perfil de toxicidade menor em comparação ao 2,4-D”. Em resumo, o 2,4-D apresentou-se mais agressivo ao pólen de oliveira do que o glifosato nas condições experimentais.


Esse achado é relevante porque, no manejo de olivais e outras culturas, muitas vezes supõe-se que herbicidas auxínicos em baixas concentrações possam ser seguros em determinadas situações (por exemplo, aplicações de 2,4-D em dose reduzida para secar uma cultura de cobertura antes do florescimento das oliveiras, etc.). Contudo, os dados indicam que mesmo “microdoses” de 2,4-D representam um risco significativo à reprodução das oliveiras, maior do que a equivalente de glifosato. Obviamente, isso não isenta o glifosato – que também causou perdas substanciais na viabilidade polínica e, em dose suficiente, zerou a germinação. Mas chama atenção para o cuidado extremo com 2,4-D, que se mostrou implacável mesmo em concentrações diminutas. Adicionalmente, do ponto de vista de deriva, o 2,4-D traz um complicador: ele é notoriamente mais volátil e sujeito a se espalhar pelo ar do que o glifosato (que é menos volátil, embora possa derivar em gotas finas). Ou seja, existe maior probabilidade de pequenas frações de 2,4-D atingirem plantas não-alvo à distância, sobretudo em dias quentes e com vento () (). Por isso, agrônomos frequentemente alertam que “o dano potencial do 2,4-D a culturas vizinhas é desproporcionalmente alto”. Com base nos resultados da pesquisa, no caso de olivais, essa afirmação ganha ainda mais peso.


Sensibilidade extrema do pólen a doses ínfimas

Os resultados discutidos ilustram um conceito mais amplo na fisiologia vegetal: a sensibilidade de certos estágios de desenvolvimento a químicos externos, mesmo em quantidades minúsculas. O pólen, em especial, é uma estrutura delicada – essencialmente, um conjunto de células com reservas limitadas, projetadas para cumprir uma missão em pouco tempo (germinar e fecundar a flor). Diferente de um tecido adulto da planta, o pólen não conta com mecanismos robustos de detoxificação ou reservas abundantes que poderiam diluir ou metabolizar compostos tóxicos. Por isso, qualquer interferência química no ambiente imediato do pólen pode surtir efeito desproporcional. No estudo, as “subdoses” empregadas simulam justamente aquele restinho de herbicida que poderia chegar a uma flor via deriva. Verificou-se que mesmo um nível 1000 vezes menor que a dose de campo de 2,4-D (0,16 g/L) foi capaz de impedir completamente a germinação dos grãos de pólen. Essa constatação coloca o pólen de oliveira no rol das estruturas vegetais de “sensibilidade extrema” a herbicidas, junto com outras espécies já conhecidas por sofrerem danos com doses bem abaixo das recomendadas. Por exemplo, estudos de deriva mostram que carvalhos, mamoneiras, videiras e outras plantas podem exibir sintomas de fitotoxicidade (folhas encarquilhadas, deformações) com 1% ou menos da dose etiqueta de 2,4-D (). No caso do pólen de oliveira, estamos falando de 0,1% a 0,01% da dose já causando não só sintomas, mas inviabilizando a função reprodutiva por completo.


Essa hipersensibilidade do pólen não chega a ser totalmente inesperada – afinal, a própria biologia da polinização requer condições bem específicas para que tenha sucesso. Temperatura, umidade, nutrientes no estigma da flor, tudo precisa estar dentro de faixas adequadas para que o grão de pólen “desperte” e cresça em direção ao ovário. A adição de um químico estranho nesse ambiente – ainda mais um herbicida desenhado para interferir no crescimento de células vegetais – facilmente rompe o equilíbrio necessário. No pomar, isso significa que mesmo uma deriva muito leve de herbicida durante a florada da oliveira pode ter impacto desproporcional: ainda que não cause dano visível às folhas ou ramos, pode bastar para inviabilizar grande parte dos pólens e, consequentemente, reduzir a frutificação.


Implicações práticas para os olivicultores

As descobertas dessa pesquisa acendem um sinal de alerta para produtores de oliveira e técnicos agrícolas. Se quantidades tão pequenas de herbicidas podem afetar a fertilidade das flores, o manejo de ervas invasoras nos olivais durante a época de floração deve ser repensado com muito critério. Uma implicação direta é sobre a época de aplicação de herbicidas: Idealmente, evitar ao máximo pulverizações de 2,4-D, glifosato ou produtos similares quando as oliveiras estiverem florescendo. Caso seja indispensável controlar as daninhas nesse período, é recomendável optar por métodos mecânicos (roçadas, capina) ou outras alternativas que não envolvam herbicidas de pós-emergência. No manejo anual do olival, uma boa prática seria programar antecipadamente o controle químico de plantas invasoras antes do início da floração ou após o período de frutificação iniciada, reduzindo a chance de expor as flores a qualquer resíduo prejudicial.


Outra preocupação são as aplicações de herbicidas em áreas vizinhas. Muitas vezes, o olival pode estar ao lado de lavouras de grãos, pastagens ou outras culturas onde o 2,4-D é amplamente utilizado (por exemplo, para dessecação de plantio direto ou controle de broadleaves em cereais). Nesses casos, a deriva “externa” é uma ameaça real. Produtores de oliveira devem ficar atentos às pulverizações nas proximidades e, se possível, estabelecer comunicação e orientações com vizinhos para evitar aplicações de 2,4-D em dias ou épocas críticas. Já houve relatos em regiões agrícolas de uvas e oliva em que deriva de 2,4-D causou perdas econômicas severas, levando até autoridades a instaurarem restrições sazonais ao uso desse herbicida perto de cultivos sensíveis. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, onde a viticultura e a olivicultura vêm crescendo, há uma preocupação crescente em relação à deriva de 2,4-D durante a primavera, que é justamente o período de florescimento de muitas frutíferas. Assim, olivicultores devem exigir e promover boas práticas de pulverização não só em seus pomares mas em toda a paisagem agrícola ao redor.


Um ponto sutil a se considerar é que, diferentemente de danos foliares (que podem ser notados visualmente após alguns dias), os prejuízos na viabilidade do pólen podem passar completamente despercebidos a olho nu. Uma oliveira que recebeu deriva de 2,4-D na florada continuará com sua folhagem verde, poderá até segurar as flores por um tempo, mas, se o pólen foi inviabilizado, muitas dessas flores não chegarão a formar frutos. O produtor talvez só perceba semanas depois, quando a frutificação esperada não se concretiza e os chumbinhos (frutos recém-formados) não existem em número normal. A essa altura, o estrago já estará feito e será irreversível naquela safra. Portanto, a principal lição prática é a prevenção: evitar a exposição das flores de oliveira a herbicidas a qualquer custo. O manejo consciente deve antever esse risco “invisível” e tomar medidas para minimizá-lo.


Boas práticas para reduzir impactos

Diante do exposto, enumeram-se algumas boas práticas agrícolas e estratégias de mitigação que podem ser adotadas para proteger os olivais dos impactos dos herbicidas, especialmente do 2,4-D, durante a floração:

  • Planejamento do controle de daninhas: Realize a dessecação ou aplicação de herbicidas sistêmicos antes do início da fase reprodutiva das oliveiras. Se for inevitável controlar mato na época da floração, prefira métodos não-químicos ou herbicidas de contato menos persistentes.

  • Evitar o 2,4-D próximo à florada: Dê preferência a outros métodos de controle de folhas largas no período crítico. O 2,4-D, em particular, deve ser evitado nos meses/semana de florada das oliveiras. Se for absolutamente necessário usá-lo, utilize formulações menos voláteis (por exemplo, sal dimetilamina em vez de éster butílico) e aplique em condições meteorológicas muito controladas (vento abaixo de 3 km/h, temperaturas amenas, horário de pouco calor).

  • Equipamentos e técnicas anti-deriva: Use bicos de pulverização anti-deriva, que geram gotas maiores e reduzem a névoa fina que o vento leva facilmente. Mantenha a barra de pulverização baixa, próxima ao alvo, e calibração adequada para evitar excesso de calda. Evite pressões muito altas no pulverizador. Se possível, utilize tecnologia de pulverização eletrostática ou com assistente de ar, que ajudam a grudar as gotas no alvo e minimizar a deriva.

  • Faixas de segurança e barreiras vegetais: Respeite uma distância de segurança entre a área pulverizada com herbicida e os olivais em floração. Essa faixa tampão pode variar (100, 200 metros ou mais, dependendo do produto e das condições), mas quanto maior, melhor para diluir qualquer deriva. A manutenção de cercas vivas, quebra-ventos ou faixas de vegetação nativa entre propriedades também pode ajudar a interceptar parte de um eventual spray derivado, funcionando como um filtro biológico.

  • Capacitação e conscientização: Instrua as equipes de aplicação sobre os riscos específicos aos olivais. Muitas vezes, o aplicador não se dá conta de que uma “pequena neblina” de herbicida atingindo uma área de oliveiras em flor pode significar perda de frutos. Treinamentos em deriva, condições ideais de pulverização e sensibilização quanto à importância da polinização na cultura da oliveira são fundamentais.

  • Monitoramento e comunicação: Durante a época de floração, monitore previsões do tempo e fique alerta a pulverizações nas redondezas. Caso identifique deriva (odor típico de 2,4-D no ar, por exemplo, ou deriva visível), comunique imediatamente os responsáveis e, se necessário, notifique órgãos de defesa agrícola. Também mantenha diálogo com vizinhos agricultores: muitas vezes, ajustes simples no cronograma de aplicação ou uso de defensivos alternativos podem ser acordados em benefício mútuo.


Adotando essas medidas, o olivicultor reduz significativamente a probabilidade de incidência de deriva de herbicidas em momentos vulneráveis. A proteção da fase de floração deve fazer parte do planejamento anual do pomar, assim como se protege contra pragas, doenças e eventos climáticos adversos. Afinal, de nada adianta um bom manejo de todo o ciclo se na hora da polinização – o “coração” da safra – a ação inadvertida de um herbicida comprometer o potencial produtivo.


O manejo consciente e necessidade de políticas públicas

A matéria apresentada ressalta um ponto crucial: o manejo sustentável dos olivais passa também pelo cuidado com os insumos químicos e seus possíveis efeitos colaterais. Herbicidas como o 2,4-D e o glifosato trouxeram praticidade e eficiência no controle de invasoras, mas seu uso precisa ser pautado pela responsabilidade e conhecimento dos riscos. O estudo sobre a germinação do pólen de oliveira serve de alerta de que, muitas vezes, os impactos negativos dos agrotóxicos podem não ser evidentes de imediato, exigindo pesquisa e monitoramento para serem detectados. Quem poderia imaginar que dosagens tão baixas de um herbicida, imperceptíveis a olho nu, teriam o poder de anular a capacidade reprodutiva de uma árvore milenar como a oliveira? Pois agora sabemos que isso é possível, ao menos em condições de laboratório, e provavelmente em campo se não houver prevenção.


É imprescindível, portanto, incorporar esse conhecimento ao manejo diário e às boas práticas agrícolas. A consciência ambiental e produtiva deve guiar decisões como “quando e onde aplicar um herbicida”. No caso da olivicultura, zelar pela saúde do pólen e das abelhas polinizadoras durante a florada é tão importante quanto adubar ou podar corretamente. Um olival que passa incólume pela floração tem muito mais chance de garantir uma colheita cheia de frutos.


Também se faz necessária a ação de políticas públicas e regulamentações específicas. Autoridades agrícolas podem estabelecer zonas ou períodos de restrição para aplicação de 2,4-D em regiões com culturas sensíveis (a exemplo do que já ocorre em algumas áreas vitícolas), bem como exigir formulações menos voláteis e tecnologias anti-deriva obrigatórias próximo a pomares. Programas de treinamentos e certificação de aplicadores devem incluir módulos sobre proteção de polinizadores e culturas adjacentes. Ademais, incentivar mais pesquisas de campo sobre efeitos subletais de agrotóxicos em processos ecológicos (como a polinização) ajudará a fundamentar normas e recomendações técnicas sólidas.


Em suma, a conservação da produtividade e da sustentabilidade nos olivais – e na agricultura como um todo – depende de um equilíbrio fino entre o uso de defensivos e a preservação dos processos naturais. O pólen da oliveira pode ser minúsculo, mas carrega em si o futuro da safra; não podemos permitir que seja comprometido por descuido ou desconhecimento. Que esta evidência científica sirva de guia para práticas mais seguras e políticas mais conscientes, garantindo que nossos olivais continuem a florescer e produzir o precioso azeite com qualidade e em harmonia com o meio ambiente.


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