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Turismo do mundo do vinho e do azeite

Por Ricardo Dourado Furtado

Em um planeta cada vez mais urbanizado, hoje mais de 90% da população europeia e norte-americana habita em cidades, e o Brasil caminha a passos largos no mesmo processo, criando assim uma busca pelas pessoas acostumadas ao ecossistema formado por prédios, cimento, vidros, ar contaminado, carros, asfalto, monóxido de carbono etc. por paisagens e ambientes que vão do rural ao selvagem.

No caso do turismo rural, alguns “produtos” já estão consolidados há muitos anos, como no caso da região de Champanhe, na França ou do Vale do Napa, nos EUA, que são destinos rurais procurados e muito concorridos.

No Brasil, o Vale dos Vinhedos cujos vinhos ganharam o reconhecimento de Indicação Geográfica tipo Indicação de Procedência, já está com uma estrutura hoteleira, gastronômica e de atrativos de passeios impressionantes.

Mas algumas regiões especializadas vêm atraindo apaixonados por alimentos cuja região produtora tem naturalmente um atrativo na paisagem e na cultura. O cultivo de oliveiras teve sua origem na Ásia Menor. Os fenícios, gregos e, finalmente, os romanos trataram de expandir seu cultivo por todo o Mediterrâneo, sendo a atual Andaluzia (antiga Bética) a maior região produtora.

No primeiro plano, a cidade de Zuheros na Andaluzia-Espanha-foto tirada por Ricardo Dourado Furtado

Viajar pelo coração interior da Andaluzia, por cidades até então desconhecidas pelos brasileiros, como Jaén, Úbeda, Balén, Mancha Real etc., são um deleite paisagístico. Um mar de oliveiras se confunde com o céu extremamente azul e límpido, e o cheiro do ar é levemente aromatizado pelas indústrias extratoras (Almazaras) de azeite.

Vou reconhecer que minha alma está na Andaluzia, mas meu coração está nos olivais de Trás-os-Montes em Portugal. Para quem quiser ir de carro, saia da cidade do Porto, acesse a rodovia A4, garanto que terá uma viagem, a mais inesquecível de sua vida. Essa rodovia foi construída exatamente para tirar do isolamento geográfico as populações habitantes: os transmontanos. Antes da construção da rodovia, levava-se até 8 horas para chegar a Bragança, hoje leva-se 1 hora e 30 minutos por uma série de túneis e pontes sobre os afluentes do rio Douro, encurtaram a distância e o tempo de viagem.

Tenha cuidado ao sair dos túneis, pois eles furaram as altas montanhas e o vento é tão forte que existem birutas (aqueles instrumentos que estão nos aeroportos para indicar a velocidade e a direção do vento) na saída dos túneis, para indicar aos motoristas que transitem com cuidado. Somado a isso, as pontes sobre os afluentes do Douro formam um dos patrimônios paisagísticos mais deslumbrantes do planeta.

O Castelo de Bragança com sua torre e muralha- Bragança em Portugal-fotos tiradas por Ricardo Dourado Furtado

Ao chegar à Trás-os-Montes, obviamente o destino é Bragança, a maior cidade da região e grande centro cultural e educacional. O Instituto Politécnico de Bragança é um dos mais respeitados centros de ciência e educação de toda a Europa, mas não deixe de aportar em cidades como Mirandela, Macedo dos Cavalheiros, Valpaços, Vila Flor, enfim locais espetaculares e até o momento, pouco visitados pelos brasileiros.

Campo de olivas em Sucções-Mirandela-Portugal-foto tirada por Ricardo Dourado Furtado

Em Mirandela, em especial, na localidade de Sucções, estão os produtores de um dos melhores azeites de oliva do mundo, traz todo o “terroir” transmontano ímpar de oliveiras centenárias e variedades como verdeal, madural, cobrançosa, redondal, enfim um azeite realmente divino. Os irmãos Pavão, Francisco e Antônio são magos em um mundo onde a tecnologia moderna é fundamental para produzir azeite, eles ainda moem suas azeitonas em um moinho de pedra de granito, é um mistério como fazem este azeite.

Moinho de pedra de granito-Casa Santo Amaro-Sucções-Mirandela-Portugal-foto tirada por Ricardo Dourado Furtado

Eles fazem do azeite Casa Santo Amaro um produto raro feito com esmero e cuidado que leva dentro de cada garrafa de azeite conhecimentos ancestrais dominados somente por eles. Ao participar da colheita e do processo de produção do Casa Santo Amaro em Sucções, há uma atmosfera celta onde Francisco, Antônio e sua família são modernos druidas em um mundo poluído por tecnologias digitais.

Ricardo Dourado Furtado é auditor fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura em Porto Alegre-RS. É engenheiro agrônomo pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e economista pela UNIFOR (Universidade de Fortaleza). Tem mestrado em Ecologia pelo Instituto de Biociências da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Nasceu em Alegrete-RS e é meu irmão.

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