Em Maldonado, perto de Pan de Azúcar, aos pés do Cerro de Las Ánimas, está o lagar Olivos de la Ánimas que em parceria com o INIA (Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria) e outras instituições, inova na economia circular e valoriza os resíduos da produção da azeitona.
A sustentabilidade e o cuidado com a natureza está em alta, e na olivicultura não seria diferente.
O caroço da azeitona é o que sobra após a extração do azeite de oliva extravirgem, juntamente com o bagaço das azeitonas, gerando uma enorme pilha de resíduo na propriedade.
Em um lagar, o azeite representa entre 10 e 15% da produção, o restante é o resíduo que acaba sendo descartado de forma incorreta.
Mas como aproveitar esse material?
Marcelo Ortega, sócio fundador da Olivos de las Ánimas, diz que a ideia de valorizar esses resíduos surgiu em 2021, assim que instalaram a sua fábrica. Destaca a necessidade de aplicar critérios de circularidade na produção agrícola, evitando desperdícios e reduzindo a poluição.
Entre compostagem e fertirrigação
A gestão de resíduos nas plantações de oliveiras é um problema, reflete a pesquisadora Paula Conde, da área de Sistemas Intensivos de Plantas do Instituto Nacional de Investigação Agrária (INIA).
“É um resíduo com muita carga orgânica. Possui grandes quantidades de fósforo, potássio e outros nutrientes que podem contaminar o lençol freático , que é o acúmulo de água subterrânea localizado a pouca profundidade acima do nível do solo”, explicou. Você não pode juntar tudo; Na verdade, os produtores muitas vezes “dispersam-no pelo campo” para evitar os efeitos da contaminação . Mas é um sistema que leva tempo, tem que ser feito na colheita e não disponibiliza nutrientes para o solo, destacou a especialista.
O INIA, trabalha nesta questão desde 2015 e há dois anos estabeleceu uma parceria com Olivos de las Ánimas, que tem sido uma excelente estação experimental, “sempre inovando e apoiando a investigação”.
Tudo o que resta após a extração do óleo é conhecido como ' alperujo '. É composto por água da vegetação, bem como por partes sólidas da azeitona, como o caroço, o mesocarpo e a casca, e também por restos de azeite. Aquela pilha de caroços de azeitona triturados é, então, apenas uma parte do projeto. Há muito mais para transformar e aproveitar.
“A parte sólida dos resíduos é utilizada para compostagem e o líquido que sai é utilizado para fertirrigação , tipo de irrigação que fornece nutrientes ”, disse Conde. Assim, o alperujo é tratado e utilizado dentro do mesmo estabelecimento, proporcionando um fertilizante natural e completo para os produtores. Isto, indicou, reduz a necessidade de investimento em fertilizantes químicos e melhora a estrutura do solo.
Mas não é um caminho simples. Para começar, exige que o produtor tenha o espaço necessário para escavar grandes piscinas onde os resíduos são despejados. “Alguns dizem: 'Tem que mexer terra e isso é caro'”, disse a pesquisadora, mas destacou que são movimentos que são feitos no primeiro ano e depois se pagam. Outro aspecto fundamental é que estas piscinas devem ser impermeabilizadas porque, caso contrário, o alperujo pode infiltrar-se e contaminar.
Neste sentido, Olivos de las Ánimas tinha vários pontos a seu favor: primeiro, o espaço, e segundo, um solo “argiloso” que facilita a impermeabilização.
O sistema foi testado pela primeira vez no ano passado. Funciona assim: depois da colheita, no outono, é separado o alperujo, que fica estacionado por pelo menos três meses. Durante esse tempo, ele “drena” e a parte líquida vai para outra piscina. Restos de poda e esterco de gado são adicionados ao sólido para atingir uma relação carbono-nitrogênio adequada para compostagem, e o líquido é dissolvido com a água da chuva porque sua concentração de nutrientes é tão alta que, caso contrário, poderia ser tóxico para o solo.
Processos mais circulares
“Se um ganha, todos ganham”
Segundo Paula Conde, o INIA também realizou testes num estabelecimento na Flórida. Com base na experiência dos dois casos – Flórida e Olivos de las Ánimas – procuram desenhar um protocolo que possa ser aplicado para outros estabelecimentos.
Na verdade, nos próximos meses a organizarão um dia, em conjunto com a Associação Uruguaia de Oliveiras (Asolur) para compartilhar suas descobertas com outros produtores. “Se um ganha, todos ganham. Esse é o princípio de empresas como Olivos de las Ánimas e INIA”, comentou.
O Olivos de las Ánimas, também trabalhou com a Impulsa Verde, uma iniciativa da Câmara das Indústrias do Uruguai (CIU) que traz capacidades técnicas às empresas e financiamento para incorporar melhorias no desenvolvimento de produtos e processos de produção, entre outros. A empresa participou da Ecoinnovation Cells e Connect Industries.
O trabalho do INIA termina com compostagem e fertirrigação, mas no Olivos de las Ánimas querem ir mais longe. Adquiriram uma máquina de descaroçar azeitonas, através do Fundo Industrial do Ministério da Indústria, Energia e Minas (MIEM) para separar a cava do solo do resto do alperujo. “Esse subproduto é utilizado na Espanha como fonte de biomassa para caldeiras e fogões a pellets”, disse Ortega. Além disso, disse que estão em contato com uma empresa importadora desses fogões para transformar essa ideia em realidade por meio do Programa de Oportunidades Circulares da Agência Nacional de Desenvolvimento (ANDE).
Também trabalharam com a Faculdade de Química da Universidade da República e com o MIEM para transformar o caroço em carvão ativado . Esse subproduto é utilizado, entre outras coisas, para purificar água, disse Ortega. Os testes foram realizados pelo engenheiro Néstor Tancredi e foram realizados em 2022 e 2023. “Foi constatado que é possível e que o carvão obtido é de muito boa qualidade, mas estamos tentando obter recursos para dimensionar o projeto”, ele disse.
Outra possibilidade de ir ainda mais longe é extrair os polifenóis – os famosos antioxidantes – presentes no alperujo e valorizá-los. Olivos de las Ánimas está trabalhando nisso com a Faculdade de Química, mas de forma incipiente.
Em números, o caroço representa aproximadamente 20% do que é processado. Na colheita de 2023, Olivos de las Ánimas obteve mais de 450 toneladas de composto —o equivalente a 75 elefantes machos adultos ou duas baleias azuis antárticas, o maior animal do planeta.
Mostrando assim, que o cuidado que se tem na produção de azeites de excelente qualidade, a necessidade de cuidar dos processos pós extração, e com o que sobra dele pode beneficiar ainda mais o meio ambiente.
Fica a dica
Reportagem do El País - URUGUAI
Por Tatiana Scherz Brener
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